segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis - Literatura Brasileira


Sinopse 

Moderno avant la lettre, revolucionário na forma fragmentária, no tempo narrativo não-linear, no estilo realista-irônico, é ao mesmo tempo um dos mais agudos retratos das elites brasileiras - além de repositório de algumas das passagens mais famosas da literatura em língua portuguesa.

Minha Opinião


Como o próprio nome indica, a obra é narrada por um escritor morto e ela não possuí de imediato uma ordem cronológica dos fatos, o que a torna um pouco inusitada, pois causa um certo estranhamento ao leitor em seus primeiros capítulos. Como alguém morto escreve suas memórias? ou pior, como alguém narra a própria morte e ainda por cima a coloca no inicio? Essas foram as questões que vieram em minha mente quando comecei a lê-lo.

Quando a história do defunto começa a ganhar uma certa ordem, ele conta um pouco sobre sua infância e como era o meio em que vivia, imediatamente somos teletransportados para um Brasil monarca e extremamente escravista, onde ele, Brás Cubas, comenta que fora uma criança rica e mimada que chegava a agredir escravos e fatiga-los, sem que o pai o corrigi-se. É interessante como o sofrimento do escravo não é abordado de maneira adocicada e sim real. 

Na verdade, toda a narrativa é abordada de maneira muito real. Brás Cubas não era um mocinho, muito menos um vilão, em sua trajetória tomou atitudes boas e ruins como qualquer um de nós. Ele tornou-se um homem inteligente, envolveu-se com política, fez loucuras pela primeira paixão e foi punido por isso, passou por momentos de luto e os superou, foi egoísta e depois caridoso, amou e deixou seu amor partir. 

Repare esse trecho: 

"Não a vi partir; mas à hora marcada senti alguma coisa que não era dor nem prazer, uma coisa mista, alívio e saudade, tudo misturado, em iguais doses. Não se irrite o leitor com essa confissão. Eu bem sei que, para titilar-lhe os nervos da fantasia, devia padecer um grande desespero, derramar algumas lágrimas, e não almoçar. Seria romanesco; mas não biográfico. A realidade pura é que eu almocei, como nos demais dias..."

O fato do cadáver ser "gente como a gente" e falar  sobre a partida de seu grande amor com tanta frieza  está relacionado a um movimento literário chamado Realismo, que Machado de Assis ajudou a implementar em nossa literatura. Memórias Póstumas de Brás Cubas foi um dos marcos iniciais desse movimento no Brasil. 

Se você está a procura de uma obra brasileira com um vocabulário simples, cativante e que trate de maneira real os fatos, esse livro é para você. Mesmo sendo uma leitora que ama romances, confesso que me encantei com a leitura e vi semelhanças entre mim e Brás Cubas.



"Suporta-se com paciência a cólica do próximo."
( Machado de Assis - Memórias Póstumas de Brás Cubas)




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